Caso Bernardo: encerrados depoimentos de testemunhas
Com os seis depoimentos realizados ao longo da quarta-feira (22/03), foi encerrada a etapa de oitivas de testemunhas no júri de Leandro Boldrini. O pai de Bernardo Boldrini é acusado de ser o mentor intelectual da morte do filho, ocorrida em abril de 2014. O julgamento está ocorrendo no Salão do Júri do Foro da Comarca de Três Passos e é presidido pela Juíza de Direito Sucilene Engler Audino, titular da 1ª Vara Judicial local. Assim como ontem, o réu não esteve presente no plenário, por questões de saúde.
Um grupo de estudantes do 2º semestre do curso de Direito da UNIJUÍ, campus de Três Passos, acompanhou os trabalhos.
Nesta quinta-feira (23/03), o júri se encaminha para a reta final. A previsão é de que, pela manhã, ocorra o interrogatório do réu, encerrando a fase de instrução plenária. E, na parte da tarde, sejam realizados os debates orais, com um total de 5 horas, assim divididos:
- 1h30min para a acusação (Ministério Público)
- 1h30min para a Defesa de Leandro Boldrini
- 1 hora de réplica para o MP
- 1 hora de tréplica para a Defesa
Após, o Conselho de Sentença se reunirá para decidir sobre o caso. Com a decisão dos jurados, a magistrada retornará ao plenário, para anunciar o resultado.
Marlize Cecília Renz, trabalhou com Leandro no Hospital de Três Passos
A testemunha Marlize Cecília Renz trabalhou com Leandro Boldrini no Hospital de Caridade da cidade. Ela afirmou que o médico era extremamente focado no trabalho e ocupado, mas que tratava o filho com carinho e confiava que Graciele e as babás tomassem conta dele. A madrasta, no começo da relação, era amistosa com o enteado, mas a situação mudou com a chegada da filha caçula. Contou que a tensão se agravou com a ida do menino até as autoridades, no começo de 2014, para relatar a situação vivida em casa, o que despertou a raiva de Graciele.
Marlize também relatou que, dias antes do desaparecimento de Bernardo, se deu conta de que havia sumido ampolas de Midazolam (o sedativo utilizado para colocar Bernardo Boldrini para dormir) e que comunicou o fato a Leandro e Graciele, porque o fato não era comum.
Disse que Leandro sabia que a companheira não gostava do enteado e que, inclusive, escondia as chaves de casa para que a criança não entrasse e não dava comida para Bernardo. Já em relação a Leandro, disse que nunca viu nenhum gesto de desamor ou agressivo dele com Bernardo, pelo contrário, “sempre falou com carinho”.
Quando Graciele começou a namorar com Leandro, a relação com o enteado era “excelente”, afirmou a testemunha. A situação mudou quando a madrasta engravidou. “Chegou num limite em que ele não aguentava mais ficar na mesma casa que ela”.
Mas foi quando Bernardo procurou as autoridades para tratar da sua situação em casa, e Leandro recebeu a intimação para comparecer ao Fórum, que Graciele teria ficado com muita raiva do enteado. “Graciele disse para Andressa que ia matar Bernardo”, afirmou Marlize. “Ela ficou transtornada”, acrescentou.
Lori Heller, ex-babá de Bernardo
Lori Heller foi babá do menino Bernardo, quando Leandro e Odilaine eram casados. O depoimento dela foi breve. Informou que o médico sempre foi um bom pai, que ela e a mãe do menino ficavam mais tempo com ele, em razão do trabalho de Leandro. “Ele sempre dizia para eu cuidar bem do Bernardo”. O garoto era uma criança querida, afetuosa. “Ele obedecia se a gente falava alguma coisa”.
Rosângela Andreia Pinheiro, trabalhou com Leandro no Hospital de Três Passos
A testemunha Rosângela Pinheiro trabalhou com Leandro no Hospital de Caridade de Três Passos. Ela atuava em um setor administrativo da instituição. Disse que viu Bernardo, certa vez, por lá. O menino estava usando um jaleco do pai. Ela perguntou o que ele queria ser quando crescesse, e o garoto respondeu que queria ser médico, como o pai.
Ela conheceu Graciele, que chegou a trabalhar por um período na instituição, e informou que não tinha contato próximo com a companheira de Leandro. Também não sabe nada sobre o relacionamento da madrasta com Bernardo.
Afirmou que soube por uma ligação telefônica que Bernardo havia sido assassinado. Leandro voltou ao hospital, no dia seguinte à notícia da morte do filho, e fez um procedimento cirúrgico. Ela não sabe qual foi a reação dele ao saber que o menino estava morto, nem conversaram sobre o fato.
Andrigo Rebelato, primo de Leandro Boldrini
Andrigo Rebelato é primo materno de Leandro Boldrini e amigo dele, por isso, foi ouvido na condição de informante. Advogado, ele atua em processos cíveis representando o réu. Seu depoimento foi o último e o mais longo do dia.
Os diálogos interceptados por telefone quando o médico já estava preso foi um dos pontos centrais da oitiva. Em um deles, Rebelato liga para um irmão de Leandro, orientando que sacasse o dinheiro das contas bancárias do médico, antes que a decisão judicial que determinasse o bloqueio dos valores fosse cumprida. Em outro áudio, Graciele e uma amiga conversam (quando Bernardo ainda está desaparecido), e a madrasta revela que, diante da existência de um possível mandado de prisão contra a madrasta, o casal já havia feito contato com um advogado para fazer a defesa dela.
Afirmou que não houve acordo entre os advogados para que Graciele e Edelvania assumissem a culpa e isentassem Leandro. “Não tinha estratégia, isso não existiu. Tanto não existiu que, quando a Graciele deu o depoimento no dia 30/04/14, ela criou um mecanismo de defesa”, afirmou. Nele, a madrasta assumiu que houve o homicídio culposo (sem intenção), sem a participação do companheiro.
O depoimento tratou ainda sobre a origem de Leandro Boldrini. “Toda a família tem origem na agricultura, trabalhando na lavoura”, afirmou. Segundo Rebelato, desde cedo, o caçula, Leandro, dizia que queria ser médico. Perguntado sobre a criação dele, o primo afirmou que o tio era um homem “rude”. Leandro sempre foi “pacato, passivo”.
Ele contou que soube da morte de Bernardo através da mãe. “Ela disse que tinha algo muito errado. Depois da ligação da minha mãe, comecei a compactuar com a ideia dela”, afirmou.
Rebelato foi visitar Leandro no presídio assim que foi decretada a prisão dele. Tiveram uma conversa rápida, o primo perguntou se ele tinha alguma participação na morte da criança e ele respondeu: “Não, não sabia de nada. Sou tão vítima quanto Bernardo”.