“Apesar das limitações, todos podemos aprender” afirma estudante do curso de Pedagogia em Tapejara

Aos 33 anos, Lúcia Scariot, moradora de Tapejara no norte do Estado, caminha para realizar um de seus maiores sonhos, se tornar professora. Uma má-formação ainda durante a gravidez causou a cegueira dela. Apesar da limitação imposta, a menina sempre foi considerada alegre, brincalhona, disposta a conquistar seus desejos.

Atualmente, Lúcia é acadêmica do terceiro semestre do curso de Licenciatura do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul). Está na fase dos estágios obrigatórios, onde conhece a gestão escolar e tem o primeiro contato com os estudantes. Uma vez por semana ela vai até a Escola Municipal de Ensino Fundamental Fernando Borba para realizar as atividades. Uma monitora auxilia na entrega dos materiais aos estudantes dos 4º e 5º anos.

— Me sinto feliz em estar aqui, participando e realizando um sonho. As crianças conversam comigo, são interessadas, e eu conto um pouco da minha realidade, a maneira como eu leio, escrevo — comenta Lúcia.

A inspiração para querer seguir na carreira é compartilhada com os pais, Lorete e Luiz Carlos. Por cinco anos, os dois foram professores no município, ele na disciplina de filosofia, ela no magistério. Ver o caminho percorrido pela filha é motivo de orgulho.

— Quando vou em algum lugar as pessoas me reconhecem como o pai dela e, às vezes, comentam sobre os desafios que enfrenta, como deve ser difícil. Mas eu vejo que a cada contratempo ela vai em frente e supera. É algo a ser seguido. Eu tinha as minhas interrogações, mas com ela a gente dobrou as nossas formações, aprendemos todos os dias — afirma Luiz Carlos, pai da Lúcia.

Mesmo com certo receio quando a caçula começou os estudos, Lorete sempre confiou que tudo daria certo.

— Ficava imaginando se ela conseguiria, pensava como iria fazer, se virar, coisa de mãe que protege. No fundo eu sabia que as coisas se ajeitariam e ela estaria onde sempre quis — conclui Lorete.

O esforço é reconhecido pelas crianças. Em sala de aula, durante as interações, eles enxergam nela alguém para se inspirar e seguir como exemplo.

— Eu aprendi que mesmo com as dificuldades, ela não desistiu do sonho dela em ser professora. Tem muitos que nem sempre gostam do que fazem, mas ela não. Eu desejo boa sorte para ela. Vou ficar na torcida — relata Augusto Fischer, de 9 anos.

É a primeira vez que uma pessoa que tem deficiência visual participa de um curso Superior no município. Para isso, uma série de adaptações foram feitas na estrutura do curso e física do prédio do polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB) onde ocorrem as aulas. O corpo docente do colégio também recebeu orientações para auxiliar a Lúcia.

— É uma situação nova para a gente. Fizemos uma série de mudanças para garantir a acessibilidade e garantir que se sentisse confortável para exercer com total liberdade as aulas, o estágio. Abre portas para que outras pessoas sigam com projetos semelhantes — afirma Evanir Wolff, prefeito de Tapejara.

O curso está previsto para ser concluído no segundo semestre de 2025. Quando terminar as aulas, a mais nova professora tem como objetivo de vida ajudar outras pessoas, com ou sem deficiência, a não desistirem daquilo que sentem e querem para o futuro.

— É possível conseguir vencer, todos nós somos capazes. Não é porque tem um problema de visão que você vai ficar parado.

Foto: RBS tv/reprodução

Fonte: GZH