Leandro Boldrini é convocado para processo seletivo de residência médica em Santa Maria
O estudo tem sido uma das principais ocupações de Leandro Boldrini no Presídio Regional de Santa Maria. Por conta disso o médico, condenado a mais de 31 anos de prisão pela morte do filho Bernardo, de 11, foi convocado para a última fase do processo seletivo de um programa de residência no Hospital Universitário do município. A etapa ocorrerá presencialmente no dia 4 de janeiro.
”Ele tem estudado bastante”, afirmou o advogado dele, Ezequiel Vetoretti, na terça-feira. O jurista não confirma se o cliente vai participar da seleção no próximo mês. “Cabe a ele decidir. Não conversamos sobre isso, pois o assunto não tem relação com o processo”, destacou.
Boldrini concorre a uma vaga na área de coloproctologia. Em novembro, ele obteve autorização judicial para realizar a prova teórica e foi o último dos 13 classificados.
Segundo a convocação, Leandro deverá se apresentar a partir das 13h30min, na sala 1348 do prédio 26, na Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm). Ele também terá que entregar uma cópia do currículo. Uma banca vai coordenar a seleção, feita no formato de entrevista.
O resultado será divulgado no dia 11 de janeiro. Se for aprovado, o pai de Bernardo poderá atuar como residente por dois anos.
A continuidade de Boldrini na profissão é respaldada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), que o absolveu em um processo disciplinar interno. Segundo a decisão, não há provas que ele tenha receitado a medicação aplicada pela ex-companheira Graciele Ugulini em Bernardo, que resultou na morte. Em outras palavras, Leandro foi inocentado de ter violado o Código de Ética Médica e pode trabalhar como médico.
Na última sexta-feira, o Mistério Público enviou uma petição de habilitação ao Cremers para participar do processo disciplinar. O MP sustenta que somente a instituição pode representar a vítima, já que as representantes, a mãe e a avó, já faleceram.
“A absolvição de Leandro Boldrini, condenado pelo homicídio do filho, tendo para isso utilizado de seu conhecimento e condição de médico, permitindo com isso que ele continue a exercer a medicina, deve ser revista. É impensável que alguém que tenha agido dessa forma possa continuar sendo responsável pela vida de pacientes. Também e principalmente porque o MP é a única possibilidade de que Bernardo tenha representação e voz, uma vez que não tem mais ninguém que possa representá-lo”, disse a promotora Alessandra Moura Bastian da Cunha.
Consulta médica e renovação da CNH
Desde o dia 24 de outubro o pai de Bernardo cumpre pena no Presídio Regional de Santa Maria, em regime semiaberto. Nesse período Leandro aproveitou para ir a um consultório médico e ainda renovou sua CNH, além de ter feito a prova de residência médica.
Ele estava há quase cinco meses fora do sistema penitenciário, utilizando uma tornozeleira, por conta da falta de vagas em presídios da região Metropolitana. O retorno dele a uma casa prisional foi determinado da 3ª Câmara Criminal, que acolheu uma ação do MP.
Antes de retornar ao presídio, Leandro já morava há dois meses no município da região Central. A cidade é a mesma onde estão enterrados Bernardo e a mãe dele, Odilaine Uglione. O processo em que o médico foi condenado passou à Vara de Execução Criminal Regional de Santa Maria, responsável por assegurar o cumprimento da pena.
Relembre o caso
Bernardo Boldrini tinha 11 anos quando desapareceu, em Três Passos, em março de 2014. Ele teve o corpo encontrado dez dias depois, enterrado em uma cova vertical em uma propriedade às margens do rio Mico, na cidade vizinha de Frederico Westphalen.
No mesmo dia, o pai e a madrasta da criança foram presos, suspeitos, respectivamente, de serem o mentor intelectual e a executora do crime, com a ajuda da amiga dela, Edelvania Wirganovicz. Dias depois, a Polícia prendeu Evandro Wirganovicz, suspeito de ser a pessoa que preparou a cova onde o menino teve o corpo enterrado.
Em março deste ano, Leandro Boldrini foi condenado a 31 anos e oito meses de prisão pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica. Ele foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver.
Preso desde 2014, ele atingiu o requisito de tempo previsto para passar do regime fechado para o semiaberto. Ele cumpriu dois quintos da pena, por isso, alcançou o direito à progressão. Boldrini atuava na cozinha do presídio em que estava.
Fonte: Correio do Povo