Facções que ameaçam banqueiros do jogo do bicho são alvo de 78 mandados judiciais nas Missões

A mistura entre tráfico e jogo do bicho é alvo de ação da Polícia Civil na quarta-feira (11). Cerca de 250 agentes executaram 78 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Luiz Gonzaga, Porto Xavier, Roque Gonzales, Cerro Largo, Guarani das Missões, Santo Ângelo e Santa Rosa. Foram fechadas 68 bancas de jogatina clandestina. Um homem foi preso por posse ilegal de arma de fogo.

Na chamada Operação Marreta, estão na mira bicheiros investigados por financiar o crime organizado e o tráfico de drogas com contribuições. A investigação aponta que cada um deles chega a contribuir com R$ 8 mil semanais. Entre os investigados aparece um “comandante regional” da contravenção, conhecido pela alcunha de Paulista, morador de Santo Ângelo, que seria o centralizador das cobranças.

Nesta primeira etapa, não foram pedidos mandados de prisão, mas há detenções em flagrante. Numa segunda etapa devem ser desencadeadas prisões preventivas. A investigação é chefiada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga. Conforme o delegado Heleno dos Santos, os criminosos agiam com violência e utilizam vídeos prometendo assassinar quem não contribuísse com a causa.

— As filmagens são espalhadas nas redes sociais para extorquir bicheiros, como forma de obrigá-los a não atrasarem os pagamentos — resume Santos.

As investigações começaram a partir da veiculação de alguns vídeos nos quais homens armados com fuzis aparecem ameaçando bicheiros de Porto Xavier (na fronteira com a Argentina) e outras cidades da região. Eles citam nomes de alguns contraventores e os ameaçam de morte caso não paguem as contribuições devidas ao tráfico.

O delegado afirma que os bicheiros da região são responsáveis por financiar parte significativa do tráfico de drogas e uma série de crimes, inclusive contra a vida, sobretudo em Santo Ângelo, Santa Rosa e Ijuí, cidades que sofrem uma onda de homicídios decorrente da disputa pelo controle do tráfico de drogas. O delegado admite que, em parte, os banqueiros do bicho também são vítimas. No caso, de extorsão.

Durante as investigações, foram obtidas provas de que pelo menos dois policiais militares de Santo Ângelo e Santa Rosa atuavam na segurança do Paulista. Foram inclusive coletadas imagens desses policiais fazendo a escolta do bicheiro, juntamente com outros criminosos. A facção investigada é uma das maiores do Estado, com berço no Vale do Sinos. Policiais civis das regiões de Santa Maria, Carazinho, Alegrete, Santiago e Palmeira das Missões auxiliam nas buscas realizadas, assim como efetivos da Brigada Militar de Santo Ângelo e Santa Rosa.

Ameaças

Vídeos identificados pela investigação mostram a ação das facções contra os bicheiros. Num deles, um criminoso armado com fuzil, no meio de comparsas também armados, faz ameaça: 

— E aí seu Pedro, seu Robalo, nada contra vocês aí ó, mas é o seguinte, nós temos um acordo com o chefe de vocês aí, do jogo aí. Toda quinta tem que vir a grana, né? O chefe de vocês quebrou o acordo com nós. Então, a partir de sexta, já não tem jogo na cidade. Porto Xavier é nosso. Para fazer jogo, vai ter que pagar.

Em outro vídeo, um criminoso com um fuzil nomina as cidades em que a sua facção promete agir contra rivais:

— Cerro Largo, Roque Gonzales, Guarani das Missões… O que tiver de Bala, nós vai matar tudo. Não tem muito carinho.

Fonte: Polícia Civil/ GZH