Igreja desaba, mas imagem de santa resiste no Vale do Taquari
A enchente do Rio Taquari destruiu, no bairro Passo Estrela, cerca de 600 casas e a igreja da região, construída em 1954. Do que restou e ainda era visível neste domingo, 26, apenas uma cruz de concreto sinalizava que ali existiu um espaço religioso. As imagens, os bancos e o altar desapareceram. Só uma coisa resistiu: uma imagem de quase três metros de altura de Nossa Senhora de Fátima. Só as mãos dela foram quebradas. “Ela caiu de cima da igreja, mas foi girada pela força da água. Ela caiu de costas, mas ficou voltada de frente para a comunidade”, descreveu o padre Ezequiel Perin, responsável pela Igreja do Passo Estrela.
Construída em 1954 no Passo do Sobrado, a igreja já havia resistido à outras enchentes. Os mais antigos contam que na época da construção o pároco determinou que a estrutura fosse mais alta por conta da enchente de 1941. O reforço não foi suficiente para suportar a revolta do Taquari desta vez. “O pessoal disse: “Agora caiu a santa da igreja”. Logo também já gritaram: “Agora a igreja também foi”. Eu simplesmente só me sentei e disse: isso eu não acredito, a igreja não, a igreja não pode ter ido”, recordou Liane Teresinha Eckhart, catequista que permanecia inconsolável em frente aos destroços neste domingo, dia santo para os cristãos.
“Essa imagem (de Nossa Senhora de Fátima) estava no topo da igreja e tem um vínculo com o Passo Estrela, porque foi ali que as pessoas viveram. Ali foram batizadas, ali foram veladas, fizeram casamento, a primeira comunhão. A imagem estava no topo da igreja e ela representa a fé, não só a fé católica, mas a fé das pessoas de um recomeço, porque a mãe de Deus ali permanece”, discursou o padre Ezequiel.
“A gente não tem mais fotos dos filhos crianças”
Somente no Passo Estrela, foram quase 600 casas totalmente destruídas. Cerca de um mês depois, moradores ainda vagam em meio aos escombros. Nessas casas, a expressão “perdi tudo” ganha um sentido literal. Morador do bairro há 20 anos, o artesão Elton Claudir dos Santos mostrava pelas marcas do alicerce onde era cada cômodo da antiga casa. “Aqui era sala, a estrutura do banheiro aqui. Cozinha, sala e banheiro, era tudo junto”, recordou.
Como na enchente de setembro passou três dias agarrado no forro esperando a água baixar, desta vez deixou tudo para trás, até mesmo as memórias. “Minha mulher disse que agora a gente não tem mais foto dos filhos quando crianças. Só deu pra pegar uma foto da nossa netinha”, lamentou Elton, que admite saber que não vai mais poder retornar para o mesmo local.
Fonte: GZH
Foto: Jefferson Botega / Agencia RBS