Tribunal do Júri condena autor do primeiro feminicídio registrado em Ibirubá a 29 anos e 6 meses de prisão
Uma dor enorme e um vazio que nunca mais foi preenchido teve o seu desfecho judicial na tarde desta terça-feira (28) no Fórum de Ibirubá. O Tribunal do Juri condenou a 29 anos e 6 meses de prisão em regime fechado, Jamiro Schussler de Souza pelo assassinato de Marcia Oliveira Prediger em novembro de 2019 no bairro Progresso em Ibirubá.
A promotoria pediu a pena máxima por motivos torpes e homicídio quadruplamente qualificado. Segundo os depoimentos juntados aos autos, o réu chegou a ameaçar a família de morte após matar Márcia com facadas no pescoço e nas mãos.
O crime foi tratado como feminicídio pois Marcia foi namorada do réu e segundo os depoimentos já havia rompido a relação com o acusado que insistia na relação e pressionava a vítima para voltar. A promotora de Justiça Suzane Hellfeldt, que fez a acusação, leu trechos dos depoimentos de testemunhas, como vizinhos, amigos além dos depoimentos da mãe e do pai de Márcia e também da menina de apenas 11 anos, filha da vítima que viu sua mãe ser violentamente morta em sua frente e na frente de sua avó. Em depoimento a menina teria dito “ ele arrastou minha mãe igual bicho, e com ela no chão desferiu os golpes” relata a promotora aos 7 jurados, seis homens e uma mulher que participavam do tribunal do júri. Um momento forte e simbólico foi quando durante o julgamento a promotora resgatou parte da letra da música “ Camila, Camila” da banda gaúcha Nenhum de Nós, que tratava já em 1987 do tema da violência doméstica. Ela leu em voz alta trechos como “ a lembrança do silêncio, daquelas tardes, daquelas tardes, da vergonha do espelho naquelas marcas, naquelas marcas “. “O silêncio aqui se caracteriza no medo da pessoa agredida em buscar ajuda, em se sentir incapaz de gritar por socorro. E não conseguir se olhar no espelho e ver ali as marcas da agressão, se sentir até de certa maneira culpada pelo que está passando. Esse é um dos poderes da agressão psicológica, nos fazer acreditar que temos culpa pela agressão sofrida.” refletia a promotora enquanto comparava a música com a violência sofrida por Márcia.
Em outro trecho resgata “havia algo de insano naqueles olhos, olhos insanos, os olhos que passavam o dia a me vigiar, a me vigiar” cantarolou para o juri e emendava outros episódios dos depoimentos que relataram outros episódios que Márcia sofreu violência do autor, inclusive na frente da filha.
Segundo o depoimento da filha e da mãe da vítima elas estavam sentadas na frente da casa tomando um refrigerante comemorando pois no mesmo dia Márcia havia recebido o diagnóstico de um exame que havia feito atestando que o câncer de mama que havia tratado estava curado e por isso estavam muito felizes naquela noite. Segundo o depoimento da filha, Jamiro teria chegado com as mãos para trás e cobrado em voz alta porque Márcia não tinha atendido o telefone mais cedo, o que foi prontamente respondido pela mãe da vítima que ela não tinha internet e por isso não teria atendido. E foi neste momento que o réu já teria puxado a vítima, que caída no chão recebeu os golpes fatais em Márcia que sangrou muito ali mesmo na frente da casa da mãe com quem morava.
Durante todo o julgamento, o réu permaneceu de cabeça baixa escutando os relatos e as acusações. Sem demonstrar nenhum tipo de sentimento aguardou as mais de 4h de julgamento até que por volta das 13h o juiz Dr. Ralph Moraes Langanke proferiu a sentença de 29 anos e 6 meses de prisão por homicídio quadruplamente qualificado e enquadrado como feminicídio. Assim que foi proferida a sentença, o réu foi levado pelos agentes penitenciários para cumprir a pena no presídio de Soledade.
Relembre o Caso
Foi numa sexta-feira por volta de 21h50 que Marcia Oliveira Prediger, de 41 anos, foi atingida por golpes de faca pelo ex-namorado. Segundo boletim de ocorrência da época, Jamiro Schussler de Souza chegou na residência dos pais de Márcia bastante alterado, e embriagado. Jamiro não se importou com a presença da filha de Márcia na casa, e na frente da menina e da mãe da vítima, o agressor desferiu vários golpes que atingiram o pescoço, braço esquerdo e mão direita da mulher. O Corpo de Bombeiros foi chamado por um vizinho, e conduziu Márcia ainda com vida ao Pronto Atendimento do Hospital da Comunidade Annes Dias. Com quadro de hemorragia grave, a vítima acabou morrendo pouco depois de receber atendimento.
Agressor e vítima moravam a menos de 100 metros de distância
Ele morava em uma casa na mesma rua, cerca de 100 metros de distância. A filha relatou em depoimento que presenciou em outro momento a mãe ser agredida pelo então namorado.
Agressor já tinha registro de Maria da Penha em outra cidade
Em pesquisa nos registros, foi descoberto que já havia um registro de Maria da Penha contra o autor em Bento Gonçalves.
Fonte: Rádio Cidade Ibirubá