Os medalhistas do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio 2020

O Brasil conquistou 21 medalhas nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020: sete ouros, seis pratas e oito bronzes. O resultado já representa a melhor campanha brasileira na história das Olimpíadas, simbolizada por um 12º lugar no quadro geral de medalhas, que também é a melhor posição já alcançada. As sete medalhas de ouro igualaram a melhor marca. O recorde anterior era dos Jogos Olímpicos Rio 2016, quando o país teve 19 pódios, sete ouros e o 13º lugar. Assim, o Brasil também se tornou um dos únicos três países a melhorar o desempenho na Olimpíada seguinte à disputada em casa. Os únicos a realizarem tal feito foram Alemanha, que ganhou mais em Montreal 1976 do que Munique 1972, e Grã Bretanha, que melhorou os resultados entre Londres 2012 e Rio 2016. A meta do Comitê Olímpico Brasileiro era justamente superar o recorde anterior, ainda que a delegação brasileira em Tóquio tenha sido bem mais reduzida do que na última edição.

Ginástica Artística:

TATYANA ZENKOVICH / EFE

Rebeca Andrade, medalhas de ouro e prata na ginástica artística – A ginasta brasileira já tinha feito história ao garantir ao Brasil a inédita medalha da equipe feminina na ginástica artística, na sexta-feira, 30 de julho. Aos 22 anos, a esportista de Guarulhos, na Grande São Paulo, levou o país ao pódio após um desempenho hercúleo no tablado e uma performance embalada ao som de Baile de favela. Mas no domingo, 1 de agosto, Rebeca superou a si mesma e consagrou-se como a primeira campeã olímpica do Brasil na modalidade, após terminar a prova de salto em primeiro lugar. A medalha de ouro de Rebeca Andrade nesta competição pode não ser a última, já que a ginasta disputa mais uma final nesta segunda-feira, com chances reais de medalha na prova de solo feminino. “Todos sabem da minha trajetória, o que eu passei. Acho que mesmo se eu não tivesse ganhado a medalha, eu teria feito história, justamente pelo meu processo para chegar até aqui. Não desistam, acreditem no sonho de vocês e sigam firmes.”

Surfe

OLIVIER MORIN / AP

Ítalo Ferreira, medalha de ouro no surfe – O surfista potiguarde Baía Formosa e 27 anos, é o primeiro campeão olímpico do surfe, modalidade que estreou nesta Olimpíada. A medalha veio na praia de Tsurigasaki, após uma emocionante disputa na final contra o japonês Kanoa Igarashi —que eliminou Gabriel Medina na semifinais. Ferreira mostrou consistência na sua linha, com manobras aéreas e muita velocidade. Durante a final, um susto: sua prancha se partiu na primeira onda. O brasileiro não se abalou, correu para a areia, pegou outra e voltou ao mar. Já campeão, se emocionou em entrevista à TV Globo: “Eu acreditei até o final, treinei muito nos últimos meses, e Deus realizou meu sonho. Posso fazer o que eu amo, ajudar as pessoas, a minha família. Estou sem palavras, só agradecer. É algo que eu sonhei e almejei bastante. Tá aí, meu nome está escrito na história do surfe.”

Canoagem de velocidade C1 1.000m

FERNANDO BIZERRA / EFE

Isaquias Queiroz, medalha de ouro na canoagem – Isaquias, por si só, é uma potência olímpica. Foi a quarta medalha de sua carreira em cinco provas disputadas, aos 27 anos. No Rio de Janeiro, em 2016, ele se tornou o primeiro brasileiro a conquistar três medalhas em uma edição olímpica: prata no C1 1.000 metros, prata no C2 1.000 metros e bronze no C1 200 metros. O feito só não era possível de ser repetido em Tóquio porque a última prova foi retirada do cronograma olímpico. Mas, no fim, Isaquias também não repetiu o desempenho a C2 1.000 metros, na qual remou ao lado de Jacky Godmann e terminou em quarto lugar. Sobrou a modalidade individual para o baiano entrar na história. “Não quero sair daqui sem um ouro. O sonho não acabou”, declarou depois do primeiro resultado.

Vela – Classe 49er FX

CARLOS BARRIA / REUTERS

Martine Grael e Kahena Kunze, medalha de ouro na classe 49er FX da vela – Foi a segunda participação da dupla numa Olimpíada e a segunda vez que conquistam uma medalha, depois do ouro olímpico na Rio 2016. Filhas de velejadores experientes e campeões em suas categorias, as duas vêm de linhagens vencedoras no esporte. Kahena, de 30 anos, é filha de Claudio Kunze, campeão mundial júnior na classe Pinguim nos anos 1970. No caso de Martine, também 30 anos, a medalha em Tóquio 2020 é a nona da família Grael, símbolo de vitória em Jogos Olímpicos. Seu pai, Torben Grael, é o maior medalhista olímpico do Brasil ao lado do também velejador Robert Scheidt, ambos com cinco medalhas. Torben tem dois ouros, uma prata e dois bronzes olímpicos. Já o tio de Martine, Lars, tem duas medalhas de bronze em Jogos. Segundo ela conta, o tio, que sofreu um acidente em 1998 e perdeu a perna, foi sua maior inspiração.

Maratona aquática

LEONHARD FOEGER / REUTERS

Ana Marcela Cunha, medalha de ouro na maratona aquática – Um dos principais nomes da maratona aquática da história da categoria, a brasileira de 29 anos já possuía vários títulos mundiais. Mas faltava uma medalha olímpica em seu currículo de atleta. Ela estreou numa Olimpíada em Pequim 2008, com apenas 16 anos, mas acabou ficando de fora da Londres 2012. Na Rio 2016 era a favorita, mas acabou chegando em décimo lugar por causa de um problema de saúde. Agora foi diferente. “É um quarto ciclo olímpico vindo de uma frustração no Rio e um amadurecimento muito grande para chegar até aqui”, explicou. Nascida em Salvador, a atleta é filha de pai nadador e mãe ginasta e começou a nadar aos dois anos.

Boxe

LUIS ROBAYO / AFP

Abner Teixeira, medalha de bronze no boxe – O atleta vê na medalha o caminho para seu maior objetivo: comprar uma casa para sua mãe. “As metas imediatas são ser campeão olímpico e campeão mundial”, disse. “A longo prazo, elas são comprar a casa para minha mãe e dar um futuro melhor para ela”. O pugilista nasceu em Osasco, na região metropolitana de São Paulo, mas tem como lar atual a cidade de Sorocaba, a 100 quilômetros da capital, para onde se mudou em 2011. No mesmo ano, aos 15 anos de idade, descobriu a luta através do projeto social “Boxe – uma luz para o futuro”. Com mais de 1,90m, logo virou uma referência brasileira na categoria peso pesado, acima de 91 quilos. Em Tóquio, foi derrotado pelo cubano Júlio Cesar La Cruz na semifinal da categoria peso pesado masculino, entre 81 e 91 quilos. Como o boxe não prevê a disputa pelo bronze, os derrotados na semifinal já garantem o terceiro lugar no pódio.

UESLEI MARCELINO / REUTERS

Hebert Conceição, medalha de ouro no boxe – O boxeador brasileiro ficou em primeiro lugar na categoria peso-médio (69-75kg) ao vencer a final por nocaute contra o ucraniano Oleksandr Khyzhniak, bicampeão europeu e campeão mundial de peso-médio. A disputa estava se caminhando para a vitória do europeu até o terceiro round, quando Hebert deu um golpe de esquerda que nocauteou seu adversário e definiu a luta ao seu favor. “Foi surpresa para muita gente, mas para mim, não. Eu trabalhei muito”, afirmou o campeão.

LUIS ROBAYO / AFP

Beatriz Ferreira, medalha de prata no boxe – A pugilista baiana de Salvador terminou em segundo na categoria peso leve do boxe feminino. Bia, atual campeã e favorita ao pódio, fez uma campanha impecável até a final. Na decisão, venceu o primeiro round contra a irlandesa Kellie Harrington, mas foi derrotada por unanimidade nos dois seguintes. A medalha de prata representa o melhor resultado do boxe feminino em uma Olimpíada.

400 metros com barreiras

MARTIN MEISSNER / AP

Alison dos Santos, o “Piu”, medalha de bronze nos 400 metros com barreiras – Pela primeira vez, o Brasil tem um medalhista olímpico na prova de 400 metros rasos com barreira. E ele só tem 21 anos. O pódio representa a chegada da fama para um menino tímido. Quando tinha 10 meses de idade, Alison sofreu um acidente com uma panela de óleo quente e teve sérias queimaduras na cabeça. Ele começou como judoca na infância, mas logo chamou a atenção pelo porte físico —1,85m aos 14 anos de idade, 2,00m aos 21— e foi convidado para o atletismo por professores de um projeto social do Instituto Edson Luciano Ribeiro em visita a escolas da cidade. Na primeira oportunidade, recusou por conta da timidez. Demorou alguns meses para aceitar o convite e, ainda assim, com certa cautela. Mas depois não parou mais de correr. “Eu não estou aqui só por mim, eu corro por outras pessoas também”, afirmou em entrevista depois da prova, citando seu treinador e sua família. “Essa medalha não é só minha, é nossa, é do Brasil”, concluiu.

Tênis

PATRICK SEMANSKY / AP

Laura Pigossi e Luisa Stefani, bronze no tênis feminino de duplas – As paulistanas fizeram história no sábado, 31 de julho, ao conquistar a primeira medalha olímpica do tênis brasileiro. De virada, elas venceram as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina por 2 sets a 1 e ganharam o bronze em Tóquio 2020. A dupla soube que participaria dos Jogos Olímpicos menos de uma semana antes do início do evento, graças ao gerente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Eduardo Frick, que inscreveu-as na lista de espera da chave feminina, e elas conseguiram uma vaga “surpresa” após uma realocação feita pela federação internacional da modalidade, a ITF. Luisa, de 23 anos, que começou a jogar tênis aos 10, é a brasileira mais bem colocada no ranking de duplas desde sua criação: ela ocupa a 23ª posição, conquistada com uma parceria de sucesso com a norte-americana Hayley Carter. Já Laura, de 26 anos, chegou este ano em sua primeira final de WTA masters 1.000, e foi bronze nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, ao lado de Carol Meligeni. A partir do segundo semestre, ela passará a jogar ao lado da canadense Gabriela Dabrowski, 14ª do mundo.

Skate Street

BEN CURTIS / AP

Rayssa Leal, prata no skate street – Conhecida como a Fadinha do skate, ela fez história no esporte mundial com apenas 13 anos. A prata conquistada na modalidade skate street fez dela a mais jovem medalhista olímpica do Brasil. A jornada das ruas de Imperatriz, no Maranhão, para o segundo lugar no pódio (superada apenas pela japonesa Momiji Nishiya, também de 13 anos) foi marcada por uma comoção entre a torcida brasileira. Desde que um vídeo de Rayssa andando de skate com sete anos de idade vestida de fada azul viralizou, ela chamou a atenção do mundo do esportes e se tornou inspiração para uma geração de mulheres e homens: “Se uma menina de 13 anos vai representar o Brasil hoje, é por causa de mulheres skatistas que me inspiram, que me mostram que uma garota pode tudo.”

BEN CURTIS / AP

Kelvin Hoefler, prata no skate street – Este paulista de Guarujá —que quando criança era obrigado a andar de skate dentro de casa porque sua rua era de terra— foi o primeiro medalhista do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Aos 27 anos, Hoefler faturou a prata na categoria skate street. “Isso aqui representa o skate brasileiro, a nossa garra e a nossa persistência. Isso aqui não é só meu, é o skate do Brasil que merece isso aqui, merece até mais”, celebrou. O ouro ficou com o japonês Yuto Horigomi, e o americano Jagger Eaton levou a medalha de bronze sob um sol de 40 graus na pista.

Skate Park

LOIC VENANCE / AFP

Pedro Barros, prata no skate park – O atleta catarinense de 26 anos levou o skate brasileiro de volta ao pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio nesta quinta-feira, 5 de agosto. O skatista catarinense conquistou a medalha de prata na modalidade skate park, disputada no Centro de Esportes Urbanos de Ariake. A paixão pelo esporte vem desde os três anos, quando ganhou um skate do pai, também skatista. “A gente pode cair várias vezes no chão, mas a missão é ver um amanhã melhor”, disse após o pódio.

Salto com vara

ALEKSANDRA SZMIGIEL / REUTERS

Thiago Braz, medalha de bronze no salto com vara – Um dos principais nomes do atletismo brasileiro, o paulista de 27 anos conquistou sua segunda medalha consecutiva, considerando o ouro na Rio 2016 após saltar 6,03 metros e quebrar o recorde olímpico. O medalhista brasileiro começou no atletismo aos 14 anos no Clube dos Bancários de Marília, cidade onde nasceu e foi criado pelos avós paternos. Logo passou a receber orientação de sua amiga e conselheira Fabiana Murer, principal referência do esporte no Brasil antes de Thiago. Suas primeiras conquistas importantes foram o ouro no Campeonato Mundial Júnior de 2012, em Barcelona, e a prata nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2010, em Singapura.

Natação

DPA VÍA EUROPA PRESS / EUROPA PRESS

Fernando Scheffer, bronze na natação – O atleta de 23 anos ficou em terceiro lugar nos 200 metros livres, conquistando a medalha de bronze nas Olimpíadas em sua primeira participação nos Jogos. O caminho até o pódio não foi fácil para este gaúcho de Canoas: no ano passado, devido à pandemia, seu clube, o Minas Tênis Clube, fechou as portas e ele ficou três meses fora das piscinas. Por isso, o nadador brasileiro teve que recorrer a uma bicicleta ergométrica alugada e a halteres para não deixar o corpo parado. No começo de 2021, com o recrudescimento da crise sanitária, ele e cinco colegas de equipe partiram para um sítio em Minas Gerais de outro nadador. Precisaram treinar num açude.

HOW HWEE YOUNG / EFE

Bruno Fratus, bronze na natação- Com 32 anos, Fratus já é um veterano das piscinas e o velocista que mais vezes nadou abaixo de 22 segundos no mundo. Somente em Jogos Pan-Americanos ele possui sete medalhas, sendo cinco de ouro e duas de prata —conquistadas entre Guadalajara 2011, Toronto 2015 e Lima 2019. O nadador ainda possui três medalhas de prata e um bronze campeonatos mundiais. Faltava ainda uma medalha olímpica. Sua primeira Olimpíada foi em Londres 2012, quando ficou a dois centésimos de César Cielo na prova dos 50 metros livre. Acabou em quarto lugar, enquanto Cielo levou o bronze naquele ano na categoria. As expectativas eram altas para os Jogos Olímpicos do Rio 2016, mas Fratus sofreu uma lesão na região lombar meses antes. As dores nas costas foram obstáculo e o velocista acabou em sexto nos 50 metros livre daquele ano.

Judô

SERGIO PEREZ / REUTERS

Mayra Aguiar, bronze no judô – Bronze na Olimpíada de Londres 2012. Bronze na Rio 2016. E novamente bronze, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A gaúcha Mayra Aguiar, 29 anos, superou uma séria lesão e a sétima cirurgia da carreira e subiu pela terceira vez a um pódio olímpico, após terminar na terceira colocação no judô feminino, categoria até 78kg. “Não aguentava mais fazer cirurgia, ainda mais no momento que vivemos, tive medo, angústia. Mas continuei. Dar o nosso melhor vale a pena. Estou bem emocionada. Muito importante para mim”, disse a atleta, limpando as lágrimas do rosto, nesta quinta-feira.

DAVID GOLDMAN / AP

Daniel Cargnin, bronze no judô – Aos 23 anos este gaúcho de Porto Alegre trouxe a 23ª medalha do judô brasileiro na história dos Jogos Olímpicos para casa. A conquista do bronze na categoria peso meio-leve (até 66 quilos) ocorreu após luta tensa, contra o israelense Baruch Shmailov. Sua caminhada rumo ao pódio foi marcada por lesões em 2020 e até pela covid-19. Dedicou a vitória à mãe: “Acho que a gente sonhou junto isso, e vou ser bem sincero que queria era pegar, ligar para ela e falar que valeu à pena. Quando uma vez estava em um treino, pequeno, voltei chorando porque tinha apanhado muito. Ela falou: ‘não, Dani, vamos comer alguma coisa e amanhã é um novo dia.”

Futebol

THOMAS PETER / REUTERS

Seleção brasileira, ouro no futebol masculino – Comandada pelo treinador André Jardine, a seleção brasileira de futebol masculina repetiu o feito do Rio de Janeiro e se tornou bicampeã olímpica no futebol masculino. O time chegou a Tóquio como um dos favoritos, apostando em estrelas como Daniel Alves e Richarlison, além de promessas do nível de Bruno Guimarães, Malcom, Antony e Matheus Cunha. Na campanha, passou por Alemanha, Costa do Marfim, Arábia Saudita, Egito e México antes da final. Na decisão, o Brasil venceu a Espanha por 2 a 1. Matheus Cunha e Malcom, já no segundo tempo da prorrogação, marcaram os gols que deram o ouro ao futebol.

Vôlei

YURI CORTEZ / AFP

Seleção brasileira, prata no vôlei feminino – A única medalha do vôlei brasileiro em Tóquio 2020 veio com a seleção feminina de José Roberto Guimarães. O Brasil chegou na modalidade desacreditado, mas aproveitou um torneio surpreendente e emendou sete vitórias em sete jogos até a final. Na decisão, a seleção precisaria de um jogo perfeito para encarar os Estados Unidos, mas acabou longe do seu melhor nível. A derrota contundente por 3 a 0 não apagou, no entanto, o brilho de um time comandado por Fernanda Garay, Carol Gattaz, Camila Brait, Gabi e Macris.

Brasil ficou em 12° com 21 medalhas, 7 de ouro, 6 de prata e 8 de bronze.

FONTE: El País